quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ensino superior no Canadá

E aê galera!!! Tudo tranquilo?

Hoje eu vou falar sobre o ensino superior no Canadá. O país, de fato, possui uma grande variedade de Universidades e escolas superiores (University College) espalhadas por todas as províncias. As universidades são internacionalmente reconhecidas pela qualidade de ensino e pesquisa e os diplomas são equivalentes aos das universidades americanas. Elas são amplamentes financiadas com recursos públicos e, por consequência, são de qualidade elevada independentemente da localização ou área de estudo. Além disso, todas detêm um elevado grau de autonomia acadêmica. Porém, apesar de serem consideradas públicas, os alunos pagam para estudar nas universidades aqui (varia de CAD$5.000 a CAD$15.000 anuais para estudantes canadenses, a depender do programa. Cursos profissionais como medicina, odontologia, direito e MBAs custam geralmente mais. Mestrados e doutorados também são um pouco mais caros. Estudantes internacionais escolhem entre dar uma facada ou um tiro na cabeça, pagando o dobro disso). Clique aqui para ver a média do valor gasto anual com "mensalidade" num programa de graduação e aqui para ver esse gasto separado por curso.

O Canadá não possui um órgão governamental central encarregado de monitorar ou ditar as regras e padrões quanto à educação no país. Ao invés disso, a educação é responsabilidade das províncias e territórios canadenses. Aqui, após concluir o ensino secundário (secondary school), o sujeito pode buscar um diploma ou certificado obtidos, em regra, nos cursos oferecidos por Colleges ou ir atrás de um Bachelor's Degree em uma universidade. Também há a possibilidade de se fazer um Apprenticeship (algo como um profissionalizante ou curso técnico). A duração dos estudos varia de 1 a 4 anos a depender de qual deles você escolher.

No Canadá, curso superior é dividido em Undergraduate (graduação) e Graduate (pós-graduação). Estudos de graduação podem conferir ao candidato o título de Associate degree em dois anos e Bachalor's degree em quatro. Estudos de pós-graduação são os mestrados (Masters) e doutorados (doctorate ou Ph.D). Algumas instituições educacionais já oferecem programas de pós-doutorado. Mestrados subdividem-se em M.A. (Master of Arts) para estudos na área das ciências humanas e M.Sc (Master of Science) na área das ciências naturais e exatas, sendo oferecido num grande número de áreas de estudo. 

Visão geral do ensino no Canadá
É comum se fazer um mestrado numa universidade e um doutorado em outra, ou um mestrado com ênfase numa área e um doutorado noutra, como forma de enriquecer a formação acadêmica. Isso pode aumentar um pouco o número de créditos e o tempo necessário para conclusão dos cursos, mas nào deixa de representar uma foração acadêmica mais ampla. O tempo de um programa de mestrado é normalmente de 3 a 4 semestres e um doutorado, 4 semestres adicionais. Para fazer uma comparação entre os sistemas educacionais do Brasil com o americano (e também canadense) e o inglês, clique aqui.

Grande abraço!!!



Complemento...

Num desses raros momentos de pausa forçada e voluntária dos estudos (para não mencionar as inúmeras pausas inconscientes e conscientes típicas daqueles também inúmeros dias de falta de foco), resolvi acessar minha caixa de spam, à procura de um artigo que eu deveria ter recebido há uma semana. Heis que vejo um e-mail de uma pessoa querida, erradamente enclausurado nos confins daquele espaço, ainda menos visitado que arquibancada de jogo de Ice Hockey em Salvador (afinal, quem checa caixa de spam?...). Em meio a "Novas rotas da Azul", "Convite Badoo", "Britney Spears naked" e "Promoção imperdível", encontro as confortantes palavras de tia Consuelo sobre a experiência de morar e estudar fora, que gostaria de compartilhar com vocês:


  • É um amadurecimento precoce;
  • Um conhecimento sócio-cultural ímpar;
  • Sedimentação dia a dia para com os nossos laços familiares e valores;
  • Um carinho diferenciado pelo nosso país, mesmo com todos os problemas aqui existentes;
  • É a saudade de TUDO, mas é também um caminho para um diferencial na vida profissional, ainda que árduo;
  • É uma experiência pessoal para sentirmos especial diante deste universo pela oportunidade de viver tudo isso;
  • As amizades se fortalecem porque os amigos sabem que somos alimentados diariamente por notícias e atos de coragem.

Só tenho que concordar com tudo, ainda mais vindo de uma pessoa querida que já morou em lugares tão diferentes como Japão e Síria. Grande beijo tia.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Ausência

Meus amigos, peço desculpas pelos meses (sim, foram meses) sem uma única palavra escrita aqui. Mas saibam que a aflição e o desapontamento em não escrever foram muito maiores em mim. Tanta coisa aconteceu nesse tempo... de Setembro até hoje acredito ter passado por tantos altos e baixos que fariam inveja a qualquer montanha-russa de renome. Apesar de me achar um sujeito flexível, com facilidade de adaptação, comunicativo e empático (ou seja, o fodão), de repente me vi enterrado numa crise de choque cultural.

Agora vocês me perguntam, "como assim David, você já morou fora, vivia cercado de gringo no Brasil, trabalhou na AIESEC e agora vem me falar de choquinho cultural? Choquinho cultural é o caraaaalho! Tu não é caveira, pede pra sair filho da p_#& (pow).. pede pra sair (paf)..." Pois é galera, acontece nas melhores famílias e ainda poderei passar outras vezes por isso. Cada lugar é um lugar, cada experiência é única e cada pessoa reage diferente a determinadas situações.

Mas o que é esse tal choque cultural? (Senta que lá vem a sessão AIESECa) Para os não tão chegados no assunto, choque cultural pode ser entendido como a consequência do esforço e da ansiedade resultante do contato com uma nova cultura, além do sentimento de perda, confusão e impotência resultante da perda das informações culturais e regras sociais previamente acostumadas. (Hein? Cuma? ) Em outras palavras, é a resposta de seu corpo e sua mente a uma série de situações que qualquer cidadão pode vivenciar morando fora de seu país. Quer que eu desenhe? Vamos lá:

Estágios do choque cultural

1. Quando você, apesar de dominar um determinado assunto, não tem o domínio suficiente da língua para dar uma resposta à altura e não ficar parecendo uma criança ou um bundão tentando falar... além de levar o dobro do tempo para expressar algo que poderia fazer perfeitamente bem em sua própria língua.

2. Quando você se esforça para entender e acompanhar uma conversa entre o grupo num barzinho barulhento. E quando consegue não tem tanto assunto para falar, já que os temas são, em boa parte, diferentes dos que você está acostumado.

3. Quando você está crente que sabe uma palavra, mas tem que repetí-la mais de quatro vezes, além de se esmerar em explicá-la, até ouvir a outra pessoa falar exatamente aquilo que você estava falando (mas não foi isso que eu falei, porra?).

4. Quando você pensa em fazer uma piadinha, mas desiste ao perceber o tempo que você vai levar até achar as palavras certas... e quando as acha, já passou o tempo e o que você falar não fará mais o menor sentido.

5. Quando você ainda não sabe aonde ir para comprar o que quer, quais ônibus pegar, onde descer, como funciona o sistema médico, como proceder em determinadas situações, etc

6. Quando você se estressa para conseguir que alguém corte seu cabelo minimamente razoável.. e se dá conta de que ninguem aparentemente sabe cortar cabelo cacheado.

7. Quando você percebe que os valores e experiências que moldaram sua vida e dão base à sua percepção de mundo são diferentes das demais pessoas. Dessa forma, o que é engraçado, bonito, prazeroso, interessante (etc) pra você, muitas fezes não faz o menor sentido pros outros.

8. Quando 1,78 metros vira 5 pés e 10 polegadas, 75 kg. vira 165 libras, uma taça de vinho se tranforma em 8 ounces of wine e quando no aquecimento você tem que saltar a cada 20 jardas ao invés de 18 metros.

9. Quando tudo do seu país parece ser tão exótico ou perigoso, ou estranho aos olhos das pessoas. Será que é tão difícil entender que um brasileiro de olho puxado é apenas mais um de tantos brasileiros de olhos puxados e não um japonês, ou chinês, ou coreano? Por que um brasileiro branco não tem cara de brasileiro?

10. Quando o sol parece nascer às 9 horas e se pôr às 15, apesar de você muitas vezes não o ver por conta do tempo frio e fechado. (Acreditem, 4 horas de sol a menos faz TODA a diferença)

Enfim, há uma série de situações e poderíamos ficar o dia todo falando disso. O fato é que o estress causado por essas situações novas e diferentes,  a fatiga cognitiva, consequência de uma sobrecarga de informação, o choque de papéis e o próprio choque pessoal levam a um processo de choque cultural que vai lentamente afetando nossas vidas sem que nos demos conta. De repente já estamos cansados, tristes ou deprimidos e sem o menor controle de nossas vidas.

A adaptação à nova cultura requer um esforço consciente para entender as coisas que normalmente são processadas inconscientemente em nossa própria cultura. As mudanças de papéis sociais e das relações interpessoais também afetam o nosso bem-estar e o sentido de auto-conhecimento. Por fim, a perda de intimidade pessoal e a perda de contatos com pessoas significativas dão o toque final a esse embaralho cultural. Nossa auto-estima, identidade, sentimentos de bem-estar e a satisfação com a vida são todos criados e mantidos dentro do sistema cultural.

Pois bem pessoal, choque cultural não é o fim do mundo, mas requer certo esforço para superá-lo. No meu caso tive o suporte de meu irmão e amigos, além traçar um "plano de combate" para reverter a situação. Boa parte da minha angústia se dava pela minha dificuldade em encontrar tempo para dar conta das demandas do mestrado e da minha vida pessoal por estar me sentindo ainda perdido na minha nova vida. Por conta disso tracei uma agenda diária definindo hora a hora cada coisa que tinha que fazer, com base naquilo que fosse mais prioritário. À medida em que ia tomando conta da situação, ia me sentindo mais confortável para lidar com as outras barreiras. Acredito que o tempo é também um excelente aliado. Muitas vezes só precisamos ter paciência e entender o que nos está acontecendo. Aos poucos vamos nos adaptando e começando a nos sentir parte do mundo novamente.

Bom, desculpa o texto longo. Acho que depois de tantos meses precisava cuspir algumas palavras a mais. Não prometo frequência, mas espero poder escrever sempre aqui. Me faz bem e é uma excelente forma de refletir sobre a vida. Obrigado pelas visitas e pelos comentários.

Forte abraço a todos!!!